Thursday, January 3

Fim?

Nasceu incógnito, sendo seus membros dois amigos. Foi depois desmembrado, na sua verdadeira acepção, restando apenas um dos participantes . Talvez seja altura de pôr fim ao blog e fazê-lo morrer incógnito.

Tuesday, December 11

Rei Bob...Dylan


Robert Allen Zimmerman, ou antes, Bob Dylan, foi uma agradável surpresa que me surgiu ontem num embrulho, vindo de Londres, onde estão compiladas as suas melhores músicas. Nascido em 1941 nos E.U.A., é autor de músicas bem conhecidas, como Lay Lady Lay e Knockin' on Heaven's Door (1973), em estilos como o Folk, Country, Blues e Rock. O seu mais recente álbum data de 2006 - Modern Times -. Resta-me aconselhar-vos a pesquisar um pouco mais sobre a sua biografia e a ver estes dois filmes:






Wednesday, November 28

Le Rêve - "O sonho" de Picasso

Vi este quadro hoje, numa aula de francês, e gostei. Sou um ignorante no mundo da arte, mas acho que a suavidade das formas, o contraste de cores quentes e frias, a disposição do corpo da mulher, tudo está em harmonia. Foi feito por Picasso (1881-1973) em 1932, numa tarde de Agosto, segundo consta, sendo a modelo uma amante sua: Marie-Thérèse Walter (1907-1977).

Monday, November 26

Saturday, November 24

Ao sol posto

Eu gosto de te ver ao sol posto,
as folhas cobrindo a tua laranja face,
folhas outonais,
ah...como me sabe bem ter e ver o céu azul
sobre ti,
a serra defronte!
E, no entanto, é na infinitude
do meu pensamento
que está a tua finitude,
um dia não serás já minha,
apenas memória talvez.

Wednesday, November 21

Alberto Caeiro


Foi poeta singular, sensacionista, símbolo da negação do pensar, da razão. Em todos os seus poemas está presente uma tentativa expressa de ver a realidade com "o olhar" e nunca com a razão. Poder-sé-á considerar este heterónimo como o oposto do ortónimo. Contudo, a temática central é a mesma, apenas observada de um prisma diferente. É, acima de tudo, o poeta da natureza, prosaico e simples na sua linguagem, com uma suavidade surpreendente em todo o seu discurso. Confesso admirador de Cesário Verde, foi também ele admirado pelos restantes heterónimos e Fernando Pessoa ortónimo.





Tu, místico, vês uma significação em todas as cousas.

Para ti tudo tem um sentido velado.

Há uma cousa oculta em cada cousa que vês.

O que vês, vê-lo sempre para veres outra cousa.

Para mim, graças a ter olhos só para ver,

Eu vejo ausência de significação em todas as cousas;

Vejo-o e amo-me, porque ser uma cousa é não significar nada.

Ser uma cousa é não ser susceptível de interpretação.



In Poemas Inconjuntos



Quando tornar a vir a primavera

Talvez já não me encontre no mundo.

Gostava agora de poder julgar que a primavera é gente

Para poder supor que ela choraria,

Vendo que perdera o seu único amigo.

Mas a primavera nem sequer é uma coisa:

É uma maneira de dizer.

Nem mesmo as flores tornam, ou as folhas verdes.

Há novas flores, novas folhas verdes.

Há outros dias suaves.

Nada torna, nada se repete, porque tudo é real.



In Poemas Inconjuntos



XXXV


O luar através dos altos ramos,

Dizem os poetas todos que ele é mais

Que o luar através dos altos ramos.


Mas para mim, que não sei o que penso,

O que o luar através dos altos ramos

É, álém de ser

O luar através dos altos ramos,

É não ser mais

Que o luar através dos altos ramos.


In O Guardador de Rebanhos



XIII


Leve, leve, muito leve,

Um vento muito leva passa,

E vai-se, sempre muito leve.

E eu não sei o que penso

Nem procuro sabê-lo.


In O Guardador de Rebanhos

Thursday, November 8

Despedida


Foram dois anos e meio diferentes, crescemos todos bastante. Gostando ou não, foi graças a esta professora que nos tornámos os jovens adultos que somos. Vou ter saudade, vou lembrar e recordar sempre com alegria e pena, pois muitos dos melhores momentos que tive foram com e sobre si. Participei há dias numa gala onde se atibuíram prémios a professores e aí decidimos, merecidamente, atribuir-lhe o prémio Carreira, tendo sido apenas um símbolo daquilo que para nós representou, a ponta do iceberg.

Wednesday, November 7

Monday, November 5

Vilancete do século XVI







É uma pequena composição poética ibérica. Provavelmente não poderá ser considerada um vilancete - ou vilancico - como era também denominado todo o poema com um mote, que servia de refrão, seguido de algumas estrofes - as voltas - com 7 versos. Estes eram geralmente concebidos na "medida velha", isto é, com 5 ou 7 sílabas métricas. Era muito comum na Ibéria renascentista, sendo Camões um dos seus utilizadores. As suas temáticas eram geralmente o amor não correspondido, a saudade, a melancolia do poeta amado/amador. Trata-se de um poema provavelmente castelhano, do século XVI, que tem a sua piada. É dos temas que mais aprecio, a literatura medieval, apesar de pouco saber dela....






Di, perra mora,



di, matadora,



¿porqué me matas



y siendo tuyo,



tan mal me tratas?






Pedro Guerrero










Di - diz



perra - cadela



mora - moura

Monday, October 29

Apresentação à Constança

Constança, há uma coisa que me atormenta. Há tempos que ando com este problema e, sinceramente, o que concluo é que amar é bonito, mas complexo e difícil. Eu queria poder ser livre, possuir a alegre "inconsciência" da ceifeira que Pessoa nos fala, mas a sociedade é tão cruel, tão vingativa e asfixia qualquer um. Queria poder pensar sem ser agarrado por tentáculos. Já não sei nada, sinto-me bem às vezes, outras vezes num labirinto. E é neste labirinto que a minha vida se vai desenrolando, sem saber o que quero. A escrita é um refúgio meu, e felizmente que a hei. Eu e ela somos só um. Aguardar será o melhor. Sim, certamente que o é.
Eu gosto de ir para a serra, passear-me, sentar-me e inspirar o ar que me cerca, vendo apenas o azul e verde em meu redor. Os meus passos perdem-se então pela estrada alcatroada que me leva - aonde não sei bem. Olhar e escutar os morcegos ao pôr-do-sol é uma dádiva pela qual muito me regozijo. Eu percebo então como tudo é passageiro e relativo. Quem somos nós para os outros? Vimos do pó e seremos pó. Tenho pena por ser passageira a vida. Ontem foram os nossos avós, hoje somos nós, amanhã serão outros. E tudo vai assim, correndo pelo rio, até à foz. Se assim for, acho que prefiro ser um bloco bem pesado, para me manter próximo da nascente.
Os amigos que possuímos são poucos, não sei bem até que ponto os temos. Mas aqueles que julgo ter são importantes, não o nego. São bastante até.
Quanto às minhas paixões, tenho várias, mas variam consoante o tempo. São incontantes. Começou por ser a história - que ainda está presente, mas em menor importância -, depois a geografia, a meteorologia, a genealogia e finalmente a etimologia.
Há tempos que estava para me apresentar pessoalmente a ti, Constança. Pois aqui fica uma apresentação de uma pessoa possuídora de inconstância.
P.S - Isto é uma tentativa sumária de responder à questão "quem sou eu?". Sinceramente, acho que esta questão acaba muitas vezes por ser apenas retórica, se não mesmo sempre. Mas aqui fica. Perdoa-me o início descontextualizado em relação à pergunta-chave a que me propus responder, mas comecei por querer falar de outros assuntos. Sou melancólico.

Sunday, October 28

A origem da heteronímia em Pessoa IX

Quando foi da publicação de Orpheu, foi preciso, à última hora, arranjar qualquer coisa para completar o número de páginas. Sugeri então ao Sá-Carneiro que eu fizesse um poema «antigo» do Álvaro de Campos – um poema de como o Álvaro de Campos seria antes de ter conhecido Caeiro e ter caído sob a sua influência. E assim fiz o Opiário, em que tentei dar todas as tendências latentes do Álvaro de Campos, conforme haviam de ser depois reveladas, mas sem haver ainda qualquer traço de contacto com o seu mestre Caeiro. Foi, dos poemas que tenho escrito, o que me deu mais que fazer, pelo duplo poder de despersonalização que tive de desenvolver. Mas, enfim, creio que não saiu mau, e que dá o Álvaro em botão…
Creio que lhe expliquei a origem dos meus heterónimos. Se há porém qualquer ponto em que precisa de um esclarecimento mais lúcido – estou escrevendo depressa, e quando escrevo depressa não sou muito lúcido - , diga, que de bom grado lho darei. E, é verdade, um complemento verdadeiro e histérico: ao escrever certos passos das Notas para recordação do meu Mestre Caeiro, do Álvaro de Campos, tenho chorado lágrimas verdadeiras. É para que saiba com quem está lidando, meu caro Casais Monteiro!
Mais uns apontamentos nesta matéria… Eu vejo diante de mim, no espaço incolor mas real do sonho, as caras, os gestos de Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos. Construí-lhes as idades e as vidas. Ricardo Reis nasceu em 1887 (não me lembro do dia e do mês, mas tenho-os algures), no Porto, é médico e está presentemente no Brasil. Alberto Caeiro nasceu em 1889 e morreu em 1915; nasceu em Lisboa mas viveu quase toda a sua vida no campo. Não teve profissão, nem educação quase alguma. Álvaro de Campos nasceu em Tavira, no dia 15 de Outubro de 1890 (às 1.30 da tarde, diz-me o Ferreira Gomes; e é verdade, pois, feito o horóscopo para essa hora, está certo). Este, como sabe, é engenheiro naval (por Glasgow), mas agora está aqui em Lisboa em inactividade. Caeiro era de estatura média, e, embora realmente frágil (morreu tuberculoso) não parecia tão frágil como era. Ricardo Reis é um pouco, mas muito pouco, mais baixo, mais forte, mas seco. Álvaro de Campos é alto (1,75 m de altura, mais dois cm do que eu), magro e um pouco tendente a curvar-se. Cara rapada todos – o Caeiro louro sem cor, olhos azuis; Reis de vago moreno mate; Campos, entre o branco e moreno, tipo vagamente de judeu português, cabelo, porém, liso e normalmente apartado ao lado, monóculo. Caeiro, como disse, não teve mais educação que quase nenhuma – só instrução primária; morreram-lhe cedo o pai e a mãe, e deixou-se ficar em casa, vivendo de uns pequenos rendimentos. Vivia com uma tia velha, tia-avó. Ricardo Reis, educado num colégio de jesuítas, é, como disse, médico; vive no Brasil desde 1919, pois se expatriou espontaneamente por ser monárquico. É um latinista por educação alheia, e um semi-helenista por educação própria. Álvaro de Campos teve uma educação vulgar de liceu; depois foi mandado para a Escócia estudar engenharia, primeiro mecânica e depois naval. Numas férias fez a viagem a Oriente de onde resultou o Opiário. Ensinou-lhe latim um tio beirão que era padre.
Como escrevo em nome destes três? Caeiro, por pira e inesperada inspiração, sem saber ou sequer calcular que iria escrever. Ricardo Reis, depois de uma deliberação abstracta, que subitamente se concretiza numa ode. Campos, quando sinto um súbito impulso para escrever e não sei o quê. (O meu semi-heterónimo Bernardo Soares, que aliás em muitas coisas se parece com Álvaro de Campos, aparece sempre que estou cansado ou sonolento, de sorte que tenha um pouco suspensas as qualidades de raciocínio e de inibição; aquela prosa é um constante devaneio. É um semi-heterónimo porque, não sendo a personalidade a minha, é, não diferente da minha, mas uma simples mutilação dela. Sou eu menos o raciocínio e a afectividade. A prosa, salvo o que o raciocínio dá de ténue à minha, é igual a esta, e o português perfeitamente igual; ao passo que Caeiro escrevia mal o português, Campos razoavelmente mas com lapsos como dizer «eu próprio» em vez de «eu mesmo», etc. Reis melhor do que eu, mas com um purismo que considero exagerado. O difícil para mim é escrever a prosa de Reis – ainda inédita – ou de Campos. A simulação é mais fácil, até porque é mais espontânea em verso.)
Nesta altura estará o Casais Monteiro pensando que má sorte o fez cair, por leitura, em meio de um manicómio. Em todo o caso, o pior de tudo isto é a incoerência com que o tenho escrito. Repito, porém: escrevo como se estivesse falando consigo, para que possa escrever imediatamente. Não sendo assim, passariam meses sem eu conseguir escrever.
Falta responder à sua pergunta quanto ao ocultismo. Pergunta-me se creio no ocultismo. Feita assim, a pergunta não é bem clara; compreendo porém a intenção e a ela respondo. Creio na existência de mundos superiores ao nosso e de habitantes nesses mundos, em existências de diversos graus de espiritualidade, subtilizando-se até se chegar a um Ente Supremo, que presumivelmente criou este mundo. Pode ser que haja outros Entes, igualmente supremos, que hajam criado outros universos, e que esses universos co-existam com o nosso, interpenetradamente ou não. Por estas razões, e ainda outras, a Ordem Externa do ocultismo, ou seja a Maçonaria, evita (excepto a Maçonaria Anglo-Saxónica) a expressão «Deus», dadas as suas implicações teológicas e populares, e prefere dizer «Grande Arquitecto do Universo», expressão que deixa em branco o problema de se ele é Criador ou simplesmente Governador, do mundo. Dadas essas escalas de seres, não creio na comunicação directa com Deus, mas, segundo a nossa afinação espiritual, poderemos ir comunicando com seres cada vez mais altos. Há três caminhos para o oculto: o caminho mágico (incluindo práticas como as do espiritismo, intelectualmente ao nível da bruxaria, que é magia também), caminho esse extremamente perigoso, em todos os sentido; o caminho místico, que não tem propriamente perigos, mas é incerto e lento; e o que se chama o caminho alquímico, o mais difícil e o mais perfeito de todos, porque envolve uma transmutação da própria personalidade que a prepara, sem grandesriscos, antes com defesas que os outros caminhos não têm. Quanto a «iniciação» ou não, posso dizer-lhe só isto, que não sei se responde à sua pergunta: não pertenço a Ordem Iniciática nenhuma. A citação, epigrafe ao meu poema Eros e Psyche, de um trecho (traduzido, pois o Ritual é em latim) do Ritual do Terceiro Grau da Ordem Templária de Portugal, indica simplesmente – o que é facto – que me foi permitido folhear os Rituais dos três primeiros graus dessa Ordem, extinta, ou em dormência, desde cerca de 1888. se não estivesse em dormência, eu não citaria o trecho do ritual, pois se não devem citar (indicando a origem) trechos de Rituais que estão em trabalho.
Creio assim, meu querido Camarada, ter respondido, ainda com certa incoerência às suas perguntas. Se há outras que deseja fazer, não hesite em fazê-las. O que poderá suceder, e isso me desculpará desde já, é não responder tão depressa.
Abraça-o camarada que muito o estima e admira,


Fernando Pessoa.

Friday, October 26

A origem da heteronímia em Pessoa VIII

Ano e meio, ou dois anos depois, lembrei-me um dia de fazer uma partida ao Sá-Carneiro – de inventar um poeta bucólico, de espécie complicada, e apresentar-lho, já me não lembro como, em qualquer espécie de realidade. Levei uns dias a elaborar o poeta mas nada consegui. Num dia em que finalmente desistira – foi em 8 de Março de 1914 – acerquei-me de uma cómoda alta, e tomando um papel, comecei a escrever, de pé, como escrevo sempre que posso. E escrevi trinta e tantos poemas a fio, numa espécie de êxtase cuja natureza não conseguirei definir. Foi o dia triunfal da minha vida, e nunca poderei ter outro assim. Abri com um título, O Guardador de Rebanhos. E o que se seguiu foi o aparecimento de alguém em mim, a quem dei desde logo o nome de Alberto Caeiro. Desculpe-me o absurdo da frase: aparecera em mim o meu mestre. Foi essa a sensação imediata que tive. E tanto assim que, escritos que foram esses trinta e tantos poemas, imediatamente peguei noutro papel e escrevi, a fio, também, os seis poemas que constituem a Chuva Oblíqua, de Fernando Pessoa. Imediatamente e totalmente… Foi o regresso de Fernando Pessoa-Alberto Caeiro a Fernando Pessoa ele só. Ou melhor, foi a reacção de Fernando Pessoa contra a sai própria inexistência como Alberto Caeiro.
Aparecido Alberto Caeiro, tratei logo de lhe descobrir – instintiva e subconscientemente – uns discípulos. Arranquei do seu falso paganismo o Ricardo Reis latente, descobri-lhe o nome, e ajustei-o a si mesmo, porque nessa altura já o via. E, de repente, e em derivação oposta à de Ricardo Reis, surgiu-me impetuosamente um novo individuo. Num jacto, e à máquina de escrever, sem interrupção nem emenda, surgiu a Ode Triunfal de Álvaro de Campos – a Ode com esse nome e o homem com o nome que tem.
Criei, então, uma coterie inexistente. Fixei aquilo tudo em moldes de realidade. Graduei as influências, conheci as amizades, ouvi, dentro de mim, as discussões e as divergências de critérios, e em tudo isto me parece que fui eu, criador de tudo, o menos que ali houve. Parece que tudo se passou independentemente de mim, e parece que assim ainda se passa. Se algum dia eu puder publicar a discussão estética entre Ricardo Reis e Álvaro de Campos, verá como eles são diferentes, e como eu não sou nada na matéria.

Saturday, October 20

A origem da heteronímia VII


Esta tendência para criar em torno de mim um outro mundo, igual a este mas com outra gente, nunca me saiu da imaginação. Teve várias fases, entre as quais esta, sucedida já em maioridade. Ocorria-me um dito de espírito, absolutamente alheio, por um motivo ou outro, a quem eu sou, ou a quem suponho que sou. Dizia-o, imediatamente, espontaneamente, como sendo de certo amigo meu, cujo nome inventava, cuja história acrescentava, e cuja figura - cara, estatura, traje e gestos - imediatamente eu via diante de mim. E assim arranjei, e propaguei, vários amigos e conhecidos que nunca existiram, mas que ainda hoje, a perto de trinta anos de distância, oiço, sinto, vejo. Repito: oiço, sinto, vejo...E tenho saudade deles.


(Em começando a falar - e escrever à máquina é para mim falar -, custa-me a encontrar o travão. Basta de maçada para si, Casais Monteiro! Vou entrar na génese dos meus heterónimos literários, que é, afinal, o que v.quer saber. Em todo o caso, o que vai dito acima dá-lhe a história da mãe que os deu à luz.)


Aí por 1912, salvo erro (que nunca pode ser grande), veio-me à ideia escrever uns poemas de índole pagã. Esbocei umas coisas em verso irregular (não no estilo do Álvaro de Campos, mas num estilo de meia irregularidade), e abandonei o caso. Esboçara-se-me, contudo, numa penumbra mal urdida, um vago retrato da pessoa que estava a fazer aquilo. (Tinha nascido, sem que eu soubesse, o Ricardo Reis.)

Thursday, October 18

A origem da heteronímia em Pessoa VI


Isto explica, tant bien que mal, a origem orgânica do meu heteronismo. Vou agora fazer-lhe a história directa dos meus heterónimos. Começo por aqueles que morreram, e de alguns dos quais já não me lembro - os que jazem perdidos no passado da minha infância quase esquecida.


Desde criança tive a tendência para criar em meu torno um mundo fictício, de me cercar de amigos e conhecidos que nunca existiram. (Não sei, bem entendido, se realmente não existiram, ou se sou eu que não existo. Nestas coisas, como em todas, não devemos ser dogmáticos.) Desde que me conheço como sendo aquilo a que chamo eu, me lembro de precisar mentalmente, em figura, movimentos, carácter e história, várias figuras irreais que eram para mim tão visíveis e minhas como as coisas daquilo a que chamamos, porventura abusivamente, a vida real. Esta tendência, que me vem desde que me lembro de ser eu, tem-me acompanhado sempre, mudando um pouco o tipo de música com que me encanta, mas não alterando nunca a sua maneira de encantar.


Lembro, assim, o que me parece ter sido o meu primeiro heterónimo, ou antes, o meu primeiro conhecido inexistente - um certo Chevalier de Pas dos meus seis anos, por quem escrevia cartas dele a mim mesmo, e cuja figura, não inteiramente vaga, ainda conquista aquela parte da minha afeição que confina com a saudade. Lembro-me, com menos nitidez, de uma outra figura, cujo nome me não ocorre mas que o tinha estrangeiro também, que era, não sei em quê, um rival do Chevalier de Pas...Coisas que acontecem a todas as crianças? Sem dúvida - ou talvez. Mas a tal ponto as vivi que as vivo ainda, pois que as relembro de tal modo que me é mister um esforço para me fazer saber que não foram realidades.

Wednesday, October 17

A origem da heteronímia em Pessoa V


Creio que respondi à sua primeira pergunta. Se fui omisso, diga em quê. Se puder responder, responderei. Mais planos não tenho, por enquanto. E, sabendo eu o que são e em que dão os meus planos, é caso para dizer, Graças a Deus!


Passo agora a responder à sua pergunta sobre a génese dos meus heterónimos. Vou ver se consigo responder-lhe completamente.


Começo pela parte psiquiátrica. A origem dos meus heterónimos é o fundo traço de histeria que existe em mim. Não sei se sou simplesmente histérico, se sou, mais propriamente, um histero-neurasténico. Tendo para esta segunda hipótese, porque há em mim fenómenos de abulia que a histeria, propriamente dita, não enquadra no registro dos meus sintomas. Seja como for, a origem mental dos meus heterónimos está na minha tendência orgânica e constante para a despersonalização e para a simulação. Estes fenómenos - felizmente para e mim e para os outros - mentalizaram-se em mim: quero dizer, não se manifestam na minha vida prática, exterior e de contacto com os outros; Se eu fosse mulher - na mulher os fenómenos histéricos rompem em ataques e coisas parecidas -, cada poema do Álvaro de Campos (o mais histericamente histérico de mim) seria um alarme para a vizinhança. Mas sou homem - e nos homens a histeria assume principalmente aspectos mentais; assim tudo acaba em silêncio e poesia...

Tuesday, October 16

A origem da heteronímia em Pessoa IV


Feita, nas condições que lhe indiquei, a publicação da Mensagem, que é uma manifestação unilateral, tenciono prosseguir da seguinte maneira. Estou agora completando uma versão inteiramente remodelada do Banqueiro Anarquista; essa deve estar pronta em breve e conto, desde que esteja pronta, publicá-la imediatamente. Se assim fizer, traduzo imediatamente esse escrito para inglês, e vou ver se o posso publicar em Inglaterra. Tal qual deve ficar, tem probabilidades europeias. (Não tome esta frase no sentido de Prémio Nobel imanente.) Depois - e agora respondo propriamente à sua pergunta, que se reporta a poesia - tenciono, durante o Verão, reunir o tal grande volume dos poemas pequenos do Fernando Pessoa ele-mesmo, e ver se o consigo publicar em fins do ano em que estamos [1935]. Será esse o volume que o Casais Monteiro espera, e é esse que eu mesmo desejo que se faça. Esse, então, será as facetas todas, excepto a nacionalista, que Mensagem já manifestou.


Referi-me, como viu, ao Fernando Pessoa só. Não penso nada do Caeiro, do Ricardo Reis ou do Álvaro Campos. Nada disso poderei fazer, no sentido de publicar, excepto quando (ver mais acima) me for dado o Prémio Nobel. E contudo - penso-o com tristeza - pus no Caeiro todo o meu poder de despersonalização dramática, pus em Ricardo Reis toda a minha disciplina mental, vestida da música que lhe é própria, pus em Álvaro de Campos toda a emoção que não dou nem a mim nem à vida. Pensar, meu querido Casais Monteiro, que todos estes têm que ser, na prática da publicação, preteridos pelo Fernando Pessoa, impuro e simples!

Monday, October 15

A origem da heteronímia em Pessoa III


Concordo consigo, disse, em que não fiz a estreia, que de mim mesmo fiz, com a publicação de Mensagem. Mas concordo com os factos que foi a melhor estreia que eu poderia fazer.


Precisamente porque esta faceta - em certo modo secundária - da minha personalidade não tinha sido suficientemente manifestada nas minhas colaborações em revistas (excepto no caso do «Mar Português», parte desse mesmo livro) - precisamente por isso convinha que ela aparecesse, e que aparecesse agora. Coincidiu, sem que eu o planeasse ou o premeditasse (sou incapaz de premeditação prática), com um dos momentos críticos (no sentido original da palavra) da remodelação do subconsciente nacional. O que fiz por acaso e se completou por conversa, fora exactamente talhado, com Esquadria e Compasso, pelo Grande Arquitecto.


(Interrompo. Não estou doido nem bêbado. Estou, porém, escrevendo directamente, tão depressa quanto a máquina mo permite, e vou-me servindo das expressões que me ocorrem, sem olhar a que literatura haja nelas. Suponha - e fará bem em supor, porque é verdade - que estou simplesmente falando consigo.)


Respondo agora directamente às suas perguntas: (1) plano futuro da publicação das minhas obras, (2) génese dos meus heterónimos, e (3) ocultismo.

A origem da heteronímia em Pessoa II


Comecei por esse livro as minhas publicações pela simples razão de que foi o primeiro livro que consegui, não sei porquê, ter organizado e pronto. Como estava pronto, incitaram-me a que o publicasse: acedi. Nem o fiz, devo dizer, com os olhos postos no prémio possível do Secretariado, embora nisso não houvesse pecado intelectual de maior. O meu livro estava pronto em Setembro, e eu julgava, até, que não poderia concorrer ao prémio, pois ignorava que o prazo para entrega dos livros, que primitivamente fora até ao fim de Julho, fora alargado até fim de Outubro. Como, porém, em fim de Outubro havia já exemplares prontos da Mensagem , fiz entrega dos que o Secretariado exigia. O livro estava exactamente nas condições (nacionalismo) de concorrer. Concorri.



Quando às vezes pensava na ordem de uma futura publicação de obras minhas, nunca um livro do género de Mensagem figurava em número um. Hesitava entre se deveria começar por um livro de versos grande - um livro de umas 350 páginas -, englobando as várias subpersonalidades de Fernando Pessoa ele mesmo, ou se deveria abrir com uma novela policiária, que ainda não consegui completar.

A origem da heteronímia em Pessoa


Estou agora a iniciar o estudo da obra de Fernando Pessoa. Certamente, para muita gente - e eu não sou excepção -, a primeira questão que se coloca é de onde provém a sua fragmentação em heterónimos. A resposta a esta questão, apesar de talvez incompleta, encontra-se numa carta enviada a Adolfo Casais Monteiro em 1935 - ano da morte de Pessoa -, amigo seu e escritor modernista igualmente. Proponho-me aqui a colocar na íntegra a carta. Irei fazê-lo talvez em 4 ou 5 "posts", uma vez que apresenta uma grande extensão. Posteriormente, caso possível, irei aprofundar o tema do modernismo. Neste primeiro excerto Fernando Pessoa fala a Monteiro sobre a publicação do seu livro, Mensagem.








Caixa Postal 147,


Lisboa, 13 de Janeiro de 1935




Meu prezado Camarada:


Muito agradeço a sua carta, a que vou responder imediata e integralmente. Antes de, propriamente, começar, quero pedir-lhe desculpa de lhe escrever neste papel de cópia. Acabou-se-me o decente, é domingo, e não posso arranjar outro. Mas mais vale, creio, o meu papel que o adiamento.


Em primeiro lugar, quero dizer-lhe que nunca eu veria «outras razões» em qualquer coisa que escrevesse, discordando, a meu respeito. Sou um dos poucos poetas que não decretou ainda a sua própria infalibilidade, nem toma qualquer crítica, que se lhe faça, como um acto de lesa-divindade. Além disso, quaisquer que sejam os meus defeitos mentais, é nula em mim a tendência para a mania da perseguição. À parte isso, conheço já suficientemente a sua independência mental, que, se me é permitido dizê-lo, muito aprovo e louvo. Nunca me propus ser Mestre ou Chefe - Mestre, porque não sei ensinar, nem que teria que ensinar; Chefe, porque nem sei estrelar ovos. Não se preocupe, pois, em qualquer ocasião, com o que tenha que dizer a meu respeito. Não procuro caves nos andares nobres.


Concordo absolutamente consigo em que não foi feliz a estreia, que de mim mesmo fiz, com um livro da natureza de Mensagem. Sou, de facto, um nacionalista místico, um sebastianista racional. Mas sou, à parte isso, e até em contradição com isso, muitas outras coisas. E essas coisas, pela mesma natureza do livro, a Mensagem não as inclui.

Sunday, October 14

Outras figuras do modernismo


Fernando Pessoa foi a principal figura do modernismo português. Houve, contudo, outros como Mário Sá Carneiro (1890-1916), que, como Pessoa, foi sempre um insatisfeito com a vida, tendo por isso mesmo se suicidado. Foi parte da famosa Geração d'Orpheu. Como modernista, expressou-se essencialmente a nível do decadentismo, simbolismo e saudosismo. Aqui fica um belo e expressivo poema seu:


Perdi-me dentro de mim
Porque eu era labirinto,
E hoje, quando me sinto,
É com saudades de mim.

Passei pela minha vida
Um astro doido a sonhar.
Na ânsia de ultrapassar,
Nem dei pela minha vida... (...)

Desceu-me n'alma o crepúsculo;
Eu fui alguém que passou.
Serei, mas já não me sou;
Não vivo, durmo o crepúsculo.

«Dispersão»

Saturday, October 13

Som profundo
e denso
num escuro túnel
com luzes dispersas:
estou dentro de uma caixa.
Há ali alguém, defronte,
ali.

Friday, October 12

imagem

Olhando
repentino,
apercebo a chuva,
o cinzento que me rodeia,
um chão de pedra,
carris defronte,
imagem citadina,
sóbrea,
afeiçoada a mim,
igual a mim,
apenas não-falante,
não-pensante...

Saturday, October 6

Serra de Sintra vista pelo Google Earth

É a Serra mais bela de Portugal, com 12 km de comprimento, no sentido NE-SW, com o ponto mais alto a cerca de 529 metros de altitude - a Cruz Alta - onde acaba a Europa, no Cabo da Roca, elevado a 144 metros. Apresenta-se com um clima único, onde as influências mediterâneas se esbatem com os ventos húmidos e frescos atlânticos. Daí resulta, precisamente, a sua riqueza florística, com uma variedade e riqueza arbórea única. Durante séculos foi local de agricultura, apenas com algumas zonas florestais. No século XIX, com a época romantica, graças a um rei estrangeiro, Fernando de Saxe-Coburgo-Gotha (1815-1885) foi feito um intenso trabalho de reflorestação, sendo hoje uma verdadeira ilha-pulmão da Grande Lisboa. Infelizmente, como todas as ilhas pequenas e pouco cuidadas, corre constantemente o risco da subida do nível do mar, e é isso que me entristece.

Thursday, September 27

Vislumbramento

Estranho caso foi este em que te vi,
achei-te certa graça,
um encanto natural.

Sou complexo, difícil, estranho,
Raro me sinto em paz,
Sou frágil, quebradiço.

E é então neste vislumbramento
que olvido tudo,
me deslumbro, me ofusco.


27.9.2007

Monday, September 24

Poema de Fernando Pessoa




Não sou pessoa de gostar de seguir rebanhos, não me sinto bem a "fazer porque outros fazem". Com isto quero dizer o seguinte: coloco aqui um poema de Fernando Pessoa por estar agora a começar a conhecê-lo, por me aprazer lê-lo e por achar que contêm mensagem. Não por ser moda colocar poemas de Fernando Pessoa ou de outros grandes poetas.












Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem achei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é.

Atento ao que eu sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem,
Assisto à minha passagem
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: "Fui eu?"
Deus sabe, porque o escreveu.


in Poesias Inéditas, Ed. Ática, 1973




Quanta gente não haverá por aí, encaixando-se perfeitamente neste poema?

Tuesday, September 18

Pequena tentativa

Há uns meses tentei fazer um esboço de um futuro texto que retratasse episódios caricatos - imaginários ou reais - que, por falta de tempo, imaginação ou lá o que seja, se quedou pelas 3 páginas apenas. Aqui está um excerto:



Todos os dias entrava aquele pasteloso, seboso e gordalhufo rabo na sala de sermões: uma esganiçada voz, rouca ainda por vezes, era solta de áspero modo, arranhando os tímpanos mais sensíveis, causando mesmo náuseas. Logo se ouviam conversas sobre patinagem, almoços em casa da mater, por vezes até insectologia. Algumas almas eruditas se tentavam ainda aguentar no meio de tal desgraçado ambiente, agitando fortemente os braços, ganindo pelo sacro esclarecimento de uma dúvida que atormentava o seu encéfalo atormentado havia já alguns dias. A veneranda mestre aproximava-se. Numa voz agonizante soltava então um “seja”, esplanava a solução no negro quadro a meia-dúzia de almas atentas. Por vezes, algum cordeiro se levantava, tentava demonstrar a sua insatisfação perante este recreio. Em vão, porém. A velha peruca mal se movia, nem um movimento de olhos focava o cordeiro. Então, lentamente, sonolentamente, agoniadamente, uma névoa caía sobre a sala, as paredes tornavam-se grades, os vidros embaciados e o ar pesado. Os mais bravos combatentes iam por fim esmorecendo, caíndo na desgraça das equações. No entanto, no final, já saudosos de algo estimulante, ouviam o toque de saída. Rapidamente se abriam as portadas amareladas, uma lufada de ar entrava, fazendo mover de leve as pesadas saias da pesada senhora. Todos se animavam, fugiam para o verdadeiro recreio, ofendidos, atormentados e amedrontados de tamanha desgraça.

Saturday, September 15

Divagações

Naquele céu estrelado,
sob aqueles pontos distantes,
cintilantes,
eu senti-me bem,
com a humidade aos ombros,
refrescando a minha testa quente,
fatigada de tanto pensar
e pouco concluir.

16.9.2007

Saturday, September 8

Vista Una


É uma fotografia que fala por si, não é necessário mais descrição. Podem ver pelo choupo, no lado esquerdo, que é Inverno, uma estação áspera mas bela. É a vista do pátio da minha casa na Serra de Sintra.

Monday, September 3

Simples Palavras

O horizonte tornava-se esbatido agora, os tons alaranjados do poente coloriam as folhas recortadas das árvores que repousavam ao longe, à beira de um ribeiro luzidio e ruidoso que polia as escarpas de um relevo escuro, na sombra. Uma figura passou, a passo lento, apoiada num bastão de madeira velha e carcomida, ofegante, arquejante. O seu andar era custoso, ia em direcção ao pôr do sol. Não consegui vislumbrar perfeitamente as suas feições, apenas uma estrutura já débil, de rugas nas morenas mãos. A sua respiração sonora sentia-se à distância, atormentando a calmaria campestre. Chegou cerca da água do ribeiro, não havia ponte. Tornou-se para trás, num gesto fatigado e forçado, procurou ansiosamente uma alma caridosa que a ajudasse, fixou os olhos em mim. Um brilho lastimoso apoderou-se do seu olhar débil, ouviu-se um som oco de um bastão a atingir o solo. Os seus cabelos flutuaram então pelos meandros do rio, leves e transparentes, para toda a eternidade.

Eu

Sou inseguro,
não porque queira,
não porque necessite,
mas questiono-me demais,
e assim entro no escuro.

Saturday, September 1

As línguas latinas

Um tema que sempre me entusiasmou foi o estudo da língua, o saber falar bem uma língua, principalmente a língua mãe. Há diversas línguas faladas no mundo, mais de 5000, segundo dados oficiais. Um grupo ao qual pertencemos, como falantes da língua portuguesa, é o das línguas românicas ou latinas. São estas o português, galego, castelhano, catalão, occitano, provençal, francês, italiano e romeno, entre outras menos conhecidas, como o mirandês. Todas estas línguas resultaram do processo de romanização, o qual deixou marcas a diversos níveis, um dos quais a língua. O latim que chegava a estas regiões era geralmente o latim vulgar, com termos de linguagem familiar e incorrecta, o que, juntamente com o intercâmbio com as diferentes línguas nativas de cada região, levou à formação das actuais línguas. Não esqueçamos no entanto as influências posteriores, com neologismos, estrangeirismos, etc. Vejamos um pequeno exemplo das parecenças:


Português

Portugal é um país situado no sudoeste da Europa, na zona Ocidental da Península Ibérica, delimitado ao norte e ao leste por Espanha, ao sul e oeste pelo Oceano Atlântico. O território português compreende além dissso os arquipélagos autónomos dos Açores e Madeira, situados no Oceano Atlântico, completando uma áre total de 92,391 km2.

Galego
Portugal é un país situado no sudoeste da Europa, na zona Ocidental da Península Ibérica, delimitado ao norte e ao leste por España, ao sur e oeste polo Océano Atlántico. O territorio Portugués comprende ademais os arquipélagos autónomos dos Azores e Madeira, situados no Océano Atlántico, completando unha área total de 92,391 km².

Mirandês

Bi por ende ua notícia que dá cunta de que, pa l anho que ben, seran trés l professores a ansinar mirandés. A ser berdade, ye ua buona notícia.
Mas ye tamien ua respunsabilidade no muito qu'hai que fazer para que l ansino de la lhéngua mirandesa nun ande todos als anhos als tropeçones i sien saber quei se bai a passar cun el.
Ls professores precísan de tener melhores cundiçones de trabalhos i precísan tamien de tener mais formaçon i acunpanhamento para que l sou trabalho seia abaliado i reconhecido; ls alunos ténen dreito a tener manuales i outros meios para daprender (nun ténen que ser ls professores a fazer todo); ls pais i ancarregados d'eiducaçon ténen l dreito de saber porquei daprender dues lhénguas puode traer bantaijes pa ls sous filhos; las scolas ténen que tener meios i outonomie para que ls lunos i las aulas de mirandés nun seian siempre dadas an horas que mais naide quier...

Castelhano


Portugal es un país situado al sudoeste de Europa en la zona Occidental de la Península Ibérica. Es limitado al este y al norte con España, y al sur y oeste con el océano Atlántico. El territorio de Portugal comprende también los archipiélagos autónomos de las Azores y de Madeira, situados en el hemisferio norte del océano Atlántico, completando una área total de 92,391 km2.

Catalão

Les fronteres de Portugal les marquen, en bona mesura, les muntanyes i els rius. L'interior és muntanyenc i descendeix cap a les planes litorals, cultivades profusament. El punt més alt del territori portuguès és la muntanya del Pico, situada a l'illa homònima (illes Açores, que té més de 2,000 metres d'alçada. Portugal és travessat per tres grans rius, els naixement dels quals és a Espanya i la desembocadura a les ciutats principals del país. El clima portuguès varia amb l'alçada i oscil·la entre les temperatures elevades i l'ambient sec de les regions del sud i unes temperatures mitjanes més baixes amb un ambient humit a la zona nord. Les pluges són constants durant tot l'any tret del període comprès entre juliol i agost, durant el qual són pràcticament nul·les.

Occitano


Portugal es un país dau sud-oèst d'Euròpa, a l'oèst de la Peninsula Iberica; es la pàtria dau pòble portugués e forma un estat. Es limitròf amb l'estat d'Espanha au nòrd e a l'èst e es en riba de l'ocean Atlantic au sud e a l'oèst. Pereu ne fan partia dos archipèlas de l'Atlantic Nòrd: los Açòres e Madèira. A una populacion de 10 566 212 estatjants (2005) e una superfícia de 92 391 km².

Francês

Le Portugal se situe au sud-ouest de l'Europe, dans la zone occidentale de la Péninsule Ibérique, délimité au nord et à l'est par l'Espagne, et au sud et à l'ouest par l'océan Atlantique. Le territoire du Portugal comprend les régions autonomes des Açores et de Madère, situées dans l'océan Atlantique, ayant une superfície totale de 92,391km2.

Italiano

Il Portogallo è lo stato più occidentale d'Europa, dopo l'Islanda. Affacciato sull'Oceano Atlantico, con circa 830 chilometri di coste a sud e a ovest, confina solo con la Spagna (Galizia a nord, Castiglia e Leon, Estremadura e Andalusia a est). Il suo territorio, corrispondente all'antica provincia romana di Lusitania, occupa una fascia di territorio lunga circa 600 km e larga 150/200 km che dai rilievi della Meseta spagnola scende fino alla costa atlantica.


Romeno

Portugalia (portugheză Portugal) sau Republica Portugheză (portugheză República Portuguesa) este o ţară situată în extrema sud-vestică a Europei, din Peninsula Iberică, având graniţă cu Oceanul Atlantic în vest şi în sud, şi cu Spania în nord şi în est. De asemenea include două grupuri de insule ale Atlanticului: Insulele Azore (Açores) şi Insulele Madeira.


Latim

Portugalliam transeunt tria magna flumina; Durius (Douro), Tagus (Tejo) et Anas (Guadiana), quae omnia in Hispania oriuntur et in Oceanum Atlanticum influunt. In quorum influentia, Tagus caput, Olisiponem, et Durius secunda ponderis urbem, Portum Calem transit. Anas limite civitatis Australi influit. Flumen Minius (Minho) limitem facit, per ultimam cursus partem, inter Gallaeciam (Hispaniam) et Lusitaniam.


Friday, August 31

O Retrato de Dorian Gray

Acabei há dias de ler O Retrato de Dorian Gray, obra de Oscar Wilde. É uma obra interessante, centrada na reflexão sobre a Arte e o seu papel na vida, desenvolvendo-se em torno de três personagens masculinas, uma das quais - Dorian - assumirá o protagonismo. Não foi dos livros que mais me cativasse, mas gostei de o ler essencialmente pelas reflexões feitas ao longo da história. Se possível, lerei uma vez mais. Agora vou-me centrar no Memorial do Convento.

Saturday, August 25

Dream on

Everytime that I look in the mirror
All these lines on my face gettin clearer
The past is gone
It went by like dust to dawn
Isnt that the way
Everybodys got their dues in life to pay

I know what nobody knows
Where it comes and where it goes
I know its everybodys sin
You got to lose to know how to win

Half my life is in books written pages
Live and learn from fools and from sages
You know its true
All the things come back to you

Sing with me, sing for the years
Sing for the laughter, sing for the tears
Sing with me, if its just for today
Maybe tomorrow the good lord will take you away

Dream on, dream on
Dream yourself a dream come true
Dream on, dream on
Dream until your dream come true
Dream on, dream on, dream on...

Sing with me, sing for the years
Sing for the laughter and sing for the tears
Sing with me, if its just for today
Maybe tomorrow the good lord will take you away

By Aerosmith

Thursday, August 9

Oscar Wilde, escritor memorável


Oscar Wilde nasceu em Dublin, filho de William Wilde - cirurgião e amante de arqueologia, benemérito da terra - e Jane Francesca Elgee - escritora nacionalista -, a 16 de Outubro de 1854. Em 1856 nasce a sua irmã Isola. Até aos nove anos, Wilde foi educado em casa, tendo seguido depois para Portora Royal School, na Irlanda do Norte, entre 1864 e 1871, passando apenas os Verões com a família, no sul da Irlanda, onde conheceu o futuro escritor George Moore. De seguida, de 1871 a 1874 Wilde estudou Cultura Clássica no Trinity College, na capital Irlandesa, tendo-se destacado como aluno exemplar, o que lhe fez receber o prémio Berkeley Gold Medal. Recebeu depois uma bolsa para ir estudar em Oxford no Magdalene College, até 1878, onde fez parte de um movimento esteticista, cujos fundamentos residiam em criar um estereótipo de uma arte de vida, e ganhou o premio Newdigate pelo poema Ravenna. Gradoou-se aí ainda em Cultura Clássica. Após a graduação, Oscar regressou a Dublin, onde se apaixonou por Florence Balcombe, que, no entanto, não estava interessada em Wilde. Ao saber disso, o escritor avisa-a de que deixará a Irlanda para sempre, consumando-o ainda em 1878, regressando apenas duas vezes à sua terra natal até ao final da vida. Os seis anos seguintes esteve em Londres, Paris e Estados Unidos. Em Londres conhece Constance Lloyd, casando com ela em 1884, de onde resultaram dois filhos - Cyril (1885) e Vyvian (1886). Após o estado de miséria que assolou Wilde, Lloyd retirou o apelido Wilde aos filhos. Esta morreria em 1898, Cyril na I Guerra Mundial, sobrivendo Vyvian. Em 1895 foi condenado a dois anos de prisão por actos homossexuais, tendo sido aí que escreveu uma das suas maiores obras - The Portrait of Dorian Gray (O retrato de Dorian Gray) - . Foi libertado em 1897, passando a viver em Paris como o pseudónimo de Sebastian Melmoth. Morreu de meningite a 30 de Novembro de 1900. Entre as suas obras, destacam-se além de O Retrato de Dorian Gray, a O Fantasma de Canterville, O Filho da Estrela e algumas poesias, assim como 9 dramas.

Crime do Padre Amaro

Acabei ontem, já tarde, de ler uma das maiores obras de Eça de Queiroz - O Crime do Padre Amaro, publicado pela primeira vez em 1875. Foram feitas posteriormente duas edições com acrescentos e alterações. Foi um livro que me satisfez em todos os sentidos, desde a história em si até à magnífica crítica feita a uma sociedade devota e rural. Tendo como foco o quotidiano da vida do Padre Amaro e de uma família de Leiria e gente das vizinhanças, a ironia e crítica deixada pelo autor é realmente marcante, deixando transparecer o característico ambiente da época, onde uma grande percentagem do povo português se afirmava cristã, praticando uma devoção exagerada e temente aos desígnios de Deus. Não é meu objectivo aqui narrar nem resumir a história, apenas deixar a minha sincera opinião e assim, aconselhar-vos a ler esta obra. .





Prefácio da Segunda Edição de O Crime do Padre Amaro


A designação inscrita no frontispício deste livro - Edição Definitiva - necessita uma explicação.
O Crime do Padre Amaro foi escrito há quatro ou cinco anos, e desde essa época esteve esquecido entre os meus papéis - como um esboço informe e pouco aproveitável.
Por circunstâncias que não são bastante interessantes para serem impressas - este esboço de romance, em que a acção, os caracteres e o estilo eram uma improvisação desleixada, foi publicado em 1875 nos primeiros fascículos da Revista Ocidental, sem alterações, sem correções, conservando toda a sua feição de esboço, e de um improviso.
...........................................................................................................................................................
Hoje O Crime do Padre Amaro aparece em volume - refundido e transformado. Deitou-se parte da velha casa abaixo para erguer a casa nova. Muitos capítulos foram reconstruídos linha por linha; capítulos novos acrescentados; a ação modificada e desenvolvida; os caracteres mais estudados, e completados; toda a obra enfim mais trabalhada.
Assim, O Crime do Padre Amaro da Revista Ocidental era um rascunho, a edição provisória; o que hoje se publica é a obra acabada, a edição definitiva .
Este trabalho novo conserva todavia - naturalmente - no estilo, no desenho dos personagens, em certos traços da acção e do diálogo, muitos dos defeitos do trabalho antigo: conserva vestígios consideráveis de certas preocupações de Escola e de Partido, - lamentáveis sob o ponto de vista da pura Arte - que tiveram outrora uma influência poderosa no plano original do livro. Mas como estes defeitos provêm da concepção mesma da obra, e do seu desenvolvimento lógico - não podiam ser eliminados, sem que o romance fosse totalmente refeito na idéia e na forma. Todo o mundo compreenderá que - correções, emendas, entrelinhas, folhas intercaladas não bastam para alterar absolutamente a concepção primitiva de um livro, e a sua primitiva execução.

Akenside Tewace -
5 de Julho de 1875.

EÇA DE QUEIROZ




Monday, August 6

Hoje

É nestes momentos soturnos
repletos de amargura,
melancolia,
onde não há rumos,
que me pergunto mais,
me questiono incessantemente
- com pensamentos obscuros -,
entrando em ruptura,
euforia.
Indago-me "aonde vais?".
Respondo "não sei", vagamente.



7.8.2007

Friday, August 3

Viagem Porto-Viana do Castelo

Era uma manhã fresca de verão, fins de Julho, típica na cidade do Porto. Havia combinado no dia anterior uma ida a Viana do Castelo com um simpático grupo de hermanos. Era uma viagem de comboio - trem como eles dizem -. Acordei por volta das 6h30 da manhã, após uma curta noite de repouso de seis horas. Estava ainda o sol a nascer, preguiçoso e lento. Olhei pela janela do meu quarto, pairava uma atmosfera leve, característica das madrugadas de verão. Estava entusiasmado com a ideia de ir partilhar uma manhã e uma tarde com pessoas que pouco conhecia, podendo além disso aprender um pouco de castelhano. Tomei rapidament o desayuno, saí. Fui pela erma rua até ao metro de Carolina Michaellis, tendo dirigido-me até Campanhã. Aí esperei uns 10 minutos pelo Daniel e pela Isabel, os meus colegas espanhóis do estágio. Apareceu depois a Laura (monitora espanhola) acompanhada de duas espanholas. Éramos um grupo interessante - um madrileno, uma leonense, uma zamorense, uma canariana e um português -. Devo salientar que o sotaque da canariana, a Nazaret, era muitas vezes alvo de chalaça. O comboio partia as 7h55, caso a memória não me esteja a faltar. Comprámos os bilhetes, dirigimo-nos para o comboio que nos levaria a Viana, sentido Vigo. Partimos a horas certas, dizendo "até já" à capital nortenha. Durante o início da viagem ajudei a monitora a fazer uns exercícios de português. A viagem foi um pouco molestante, enfadonha, demorou 2 horas quase, quando de carro demoraria apenas 40 minutos. Há a registar apenas a entrada de um grupo de umas trinta senhoras avantajadas, cinquentonas, falando aos altos berros, peixeiras. Uma delas trazia um Nenuco aos braços, com feições muito realistas, quase assombrosas pela sua extrema parecença com a realidade, faltando apenas dizer um olá sorridente. Pedia assim dinheiro aos poucos passageiros que àquela hora por ali estavam. Tentei, embaraçado, explicar ao meu grupo que eram umas brincalhonas. Rimo-nos um pouco, admito, como não poderia deixar de ser. É pena apenas a imagem que transpareceu. Chegámos a Viana às 9h30, fomos a um café. Em seguida demos uma volta pelo centro histórico de Viana, fomos ao posto de turismo. Tínhamos planeado subir ao belo e distinto monte de Sta. Luzia, onde está repousado um imponente templo com uma vista única para o vale do Lima. Assim o fizemos, tendo feito uma escalada pela serra acima. O caminho era bastante verde, árboreo, calmo e relaxante. Merece destaque um esquilo que vi, o primeiro que vi à solta na minha curta vida. A dada altura esbarrámos com um muro que nos impedia subir. Tentámos então, a grande custo, trepá-lo e...conseguimos. Prosseguimos e, após alguns atalhos, muita conversa e animação atingimos Sta.Luzia, onde milhares de abutres vendedores tentaram impingir santinhas mal feitas e de duvidoso preço. No que diz respeito à vista não há descrição possível: dificilmente seria fiel à realidade. Vislumbra-se a cidade lá em baixo, o rio, calmo e sereno, azul, dirigindo-se em relação ao magnífico atlântico. Para Este, as longinquas montanhas, verdes e castanhas, contrastando com o azul claro do céu. De seguida descemos a montanha, fomos a um centro comercial comprar alguns "nutrientes" para ir depois almoçar à beira-rio. Foi uma refeição sob um escaldante sol, sendo nós acariciados pela frescura do Lima. Fomos depois à Praia Norte, se não me engano, onde uma paisagem deslumbrante de rochas permanece quase intacta. Estava cansado após um dia tão extenso e, tendo aconselhado os meus recentes amigos a ir a Ponte de Lima, vila única em Portugal e ligada às minhas origens, acompanhei-os à estação de camionetes e dirigi-me para a estação de comboios, onde ainda assisti a uma demonstração tipicamente portuguesa do que é ser bronco: pancadaria. Coincidência das coincidências, ao entrar no comboio quem estava lá? O já falado grupo de gralhas cinquentonas, já empanturradas, gorduchas, prontas para mais um alvoroço. O comboio não era directo para o Porto, tivémos de sair em Nine. Aí estive 40 minutos, onde ainda tive tempo para falar com um passageiro que ali estava, simpático até. Finalmente cheguei ao Porto...com a sensação de ter passado um dia completo a todos os níveis, enriquecedor. Tenho saudades, e foi apenas há 2 semanas.

Exobiologia - ciência em expansão

Também conhecida como astrobiologia ou bioastronomia, o termo surgiu pela primeira vez em 1960, utilizado por Joshua Lederberg, biólogo molecular americano (1925- ). Como a própria etimologia indica (exo - fora bio - vida logia - estudo), esta ciência dedica-se ao estudo e procura das hipotéticas condições de vida existentes fora do planeta Terra. É multidisciplinar, incluindo assim diversas outras áreas como a química, física, biologia, biologia molecular e bioquímica. Apesar de ser uma busca "às escuras", a exobiologia tem tido um considerável desenvolvimento graças aos investimentos feitos por instituições como a NASA e ESA, permitindo assim descobrir exoplanetas que poderão albergar vida, assim como planetas no nosso planeta solar. Actualmente os seus principais objectivos são uma melhor análise dos cometas, considerados como uma das hipotéticas fábricas da vida, Marte e Titã (lua de Saturno). Lua de Titã

Wednesday, August 1

Secção Linguística

Há algum tempo pensei em criar uma secção dedicada à lingua portuguesa. Fi-lo. No entanto, por falta de tempo ou disposição suficiente, apenas saíu um artigo. Este é o segundo portanto. O principal objectivo é primar por um bom uso da língua. Para tal faço pesquisas e tento partilhar aquilo que consigo apreender e aprender convosco.
Nós e A gente



Muitas vezes vamos na rua ou falamos com alguém e ouvimos a expressão "A gente fazemos" ou "A gente comemos" e muitas outras assim formuladas, com o sujeito na 3ª pessoa do singular (A gente - ele) e o verbo conjugado na 1ª pessoa do plural (nós - fazemos). Será isto correcto?Será correcto dizer:
  1. A gente fazemos?
  2. A gente faz?
A expressão a gente é uma locução pronominal com o mesmo sentido que o pronome pessoal nós, isto é, é equivalente do ponto de vista semântico, sendo usada num meio mais informal. A primeira corresponde à 3ª pessoa do singular (ele), enquanto que a segunda corresponde à 1ª pessoa do plural (nós). O verbo deve estar sempre acordado com o sujeito (ele faz e não ele fazemos). Assim, o correcto é:
  • A gente faz

Monday, July 30

Dança


Eu não sou muito de danças, verdade seja dita. Sou daqueles que nasce sem a herança genética que leva a uma certa propensão, à chamada "queda" para a dança. Definitivamente, não sou vocacionado para a dança. Contudo, isso não me impede de o tentar. Pois bem, tentei-o faz agora pouco mais de um mês. O resultado pode dizer quem viu. Deixo apenas uma foto como recordação de um momento em que pela primeira vez quase senti parkinson no corpo.

Um especial agradecimento à grande dançarina. (Sem ela eu não ia longe).

Wednesday, July 25

Votação

Colocámos um inquérito no blog de modo a saber a opinião dos nossos leitores. Basta olharem à vossa direita, no topo do blog. Votem.
Obrigado

Parabéns ao 1º rei Português

Pois é, D.Afonso Henriques faz hoje 898 anos. Nasceu em 25 de Julho de 1109, sendo filho do Conde D.Henrique de Borgonha e D.Teresa de León.




















D.Afonso Henriques (1109-1185)
D.Sancho (1154-1211)
D.Afonso II (1185-1223)
D.Afonso III (1210-1279)
D.Dinis (1261-1325)
D.Afonso IV (1291-1357)
D.Pedro I (1320-1367)
D.João I (1357-1433)
D.Afonso (1370-1461) 1º Duque de Bragança
D.Fernando (1403-1478) 2º Duque de Bragança
D.Fernando (1430-1483) 3º Duque de Bragança
D.Jaime (1479-1532) 4º Duque de Bragança
D.Teodósio (1510-1563) 5º Duque de Bragança
D.João (1543-1583) 6º Duque de Bragança
D.Teodósio (1568-1630) 7º Duque de Bragança
D.João IV (1604-1656) 8º Duque de Bragança, Rei de Portugal
D.Pedro II (1648-1706) Rei de Portugal
D.João V (1689-1750) 11ºDuque de Bragança, Rei de Portugal
D.José I (1714-1777) 12º Duque de Bragança, Rei de Portugal
D.Maria I (1734-1816) 13º Duque de Bragança, Rainha de Portugal
D.João VI (1767-1826) 15º Duque de Bragança, Rei de Portugal
D.Miguel I (1802-1866) 17º Duque de Bragança, Rei de Portugal
D.Miguel II (1853-1927) 22º Duque de Bragança
D.Duarte Nuno (1907-1976) 23º Duque de Bragança
D.Duarte Pio (1945- ) 24º Duque de Bragança

Monday, July 23

Pelo Souto de Crexente

Pelo souto* de Crexente
ua pastor vi andar
muit'alongada de gente
alçando voz a cantar,
apertando-se na saia
quando saía la raia
do sol nas ribas do Sar.

E as aves que voavam,
quando saía l'alvor,
todas d'amores cantavam
pelos ramos d'arredor,
mais nom sei tal qu'i stevesse
que em al cuidar podesse
senom todo em amor.

Ali stivi eu mui quedo,
quis falar e nom ousei,
empero* dix'a gram medo:
-Mia senhor, falar-vos-ei
um pouco, se mi ascuitardes,
e ir-m'ei quando mandardes,
mais aqui nom estarei.

-Senhor, por Santa Maria,
nom estedes mais aqui,
mais ide-vos vossa via,
faredes mesura* i*,
ca os que aqui chegarem,
pois que vos aqui acharem,
bem diram que mais ouv'i*.

souto - bosque
empero -mas
mesura - cortesia, gentileza
i - aí
ouv'i - houve aqui


JOAM AIRAS DE SANTIAGO, séc. XIII

Sunday, July 22

Estágio de Biologia Molecular no Porto

Cheguei no passado domingo ao Porto, uma cidade até então desconhecida para mim. É verdade que havia já passado aqui algumas vezes, mas sem parar a maioria delas e, além disso, nas poucas em que parei, estava em tenra idade. Vim desta vez para um estágio de Biologia Molecular no Jardim Botânico, tendo precisamente como objectivo conhecer melhor a área das biologia e química, conhecer novas pessoas, descobrir o que há de interessante nesta cidade e estar com família. Pois então devo dizer que a experiência tem sido espectacular. O Porto é uma cidade de uma tonalidade mais escura - devido à predominância de rochas melanocratas -, contrastando com os calcários de Olisipum. Passeei-me pela zona centro desta bela cidade - Aliados, Torre dos Clérigos e Baixa - e está realmente presente um ambiente agradável nesta área da cidade, sendo de realçar a sua boa conservação. Fui entretanto à foz, tendo feito o chamado "passeio geológico" até Matosinhos. A paisagem aqui é deslumbrante, sendo a zona costeira entremeada com rochas de diversos tipos e feitios. O metro do Porto é também diferente do de Lisboa, tem a sua graça. É menos sombrio. A gente é simpática na sua maioria, o clima mais oceânico. Concluíndo, resta-me aconselhar a quem não conhece a capital do norte a passar aí alguns dias.

Poesia medieval - Abadessa, oí dizer

Comprei hoje um livro de Eugénio de Andrade - Antologia Pessoal da Poesia Portuguesa - onde o autor faz uma selecção das poesias que mais lhe sobressaem na sua memória de leitor, por ordem cronológica. Eu gosto particularmente da poesia trovadoresca. Aqui têm um exemplar.


Abadessa, oí* dizer
que érades mui sabedor
de todo bem, e, por amor
de Deus, querede-vos doer
de mim, que ogano* casei,
que bem vos juro que nom sei
mais que um asno de foder.

Ca me fazem em sabedor
de vós que avedes bom sem
de foder e de todo bem,
ensinade-me mais, senhor,
como foda, ca o nom sei,
nem padre nem madre nom ei*
que m'ensin, e fiquei pastor*.

E se eu ensinado vou
de vós, senhor, deste mester*
de foder e foder souber
per vós, que me Deus aparou*,
cada que per foder, direi
Pater Noster e enmentarei*
a alma de quem m'ensinou.

E per i* podedes gaar,
mia senhor, o reino de Deus:
per ensinar os pobres seus
mais ca por outro jajuar,
e per ensinar a molher
coitada que a vós veer,
senhor, que nom souber ambrar*

AFONSO EANES DO COTOM (séc. XIII)

oí - ouvi
ogano - este ano
ei - hei (verbo haver, "tenho")
pastor - jovem, inocente
aparou - arranjou
enmentarei - referirei
i- aí

Tuesday, July 10

MadTV - Ecstasy



Digam o que disserem tá de cagar xD

(Imaginação)

Sinto-me a voltar a mim
consciente num súbito acordar...

Nunca vi tão bizarro lugar
que no entanto me é, estranhamente, familiar.

O azul de fundo e a fraca iluminação,

A música compassada ao bater do coração,
deste meu coração aterrado
que se agarra à luz do outro lado
desta sala em que me encontro,
Obstruem-me o pensamento.

É melhor correr, enquanto

Esses pontos de azul formam fileiras,
inda sou novo para morrer!
Portanto, correr, escapar às trincheiras!
Achar a saída, onde está?!

O pânico, o movimento, respirar...

Que coordenação!
Compasso a compasso, parar
de correr é morrer, salva-te coração!

Por sorte...

A saída está escrita a sangue,
e é para lá que o instinto me dirige,
devo ultrapassar o que a inscrição me redige.

Passando a parede há sempre tempo para filosofar,
então, será isto destino?

Ah! Claridade! mas só por um segundo.
O compasso passa a ser ditado
por milhares de relógios de outra geração,
já que estou noutra sala... já não ouço o coração
sufocado entre labirintos
de tic-tac-toc...

À minha volta?

Pêndulos! pêndulos? E tantos!
Mas vou correr, ainda não é
este aquele meu lugar. Passadas
ante passadas, até encontrar o supé,
a base desta fantasia.

E esquecido na correria...

Deixo o coração para trás,
talvez o recupere... um dia,
porém agora? Tanto me faz,
porque aquele coração não era meu.

Por uma porta fechada

Aberta pelos primeiros passos
vagabundos, entra-se vagarosamente,
trancado, em humanos, riscados traços,
olho em frente e nada vejo.

Do meio branco

Só se distinguem prateleiras,
brancas como a cinza mentirosa,
que pegam em mim, que carregam
com uma força parigosa,
até me arrancarem de onde estive.

E esta lava preta que me envolve

Engole-me, transportadora como é
mudou o meu espírito.
Destinado estou, portanto,
a cair.

Saturday, June 23

Reflexão

Quando comecei esta nova fase da minha vida foi uma mudança brusca: separei-me de um grupo de amigos com quem havia estado vários anos, foi difícil. Diversos momentos ficaram para sempre apenas na memória, pessoas com quem estava todos os dias passaram apenas a ser lembranças, más e boas, mas tristes todas elas, principalmente as segundas. Agora falta apenas um ano para acabar esta etapa, sinto-me amargurado, afeiçoei-me às novas pessoas que conheci, estabeleci amizades, criei afecto com elas. É realmente um pouco difícil definir esta sensação, este sentimento. Uma conclusão que posso tirar é de que tudo vai passando, e não me conformo com isso. Poderá ser defeito meu...mas nunca esquecerei os episódios que vivi até agora com os novos companheiros que criei.

Friday, June 22

há memórias

Tudo são fotografias,
momentos captados rapidamente,
sucessivamente,
digitalizados
e apagados,
apagando as agonias
mantendo as alegrias,
mas inconstantes,
também apaixonantes,
contudo inconscientes aos outros.

22.6.2007

Thursday, June 21

Mais um

É mais um que vai,
acumula-se nas memórias,
para um dia desaparecer,
levando consigo histórias,
é mais um que, mesmo sem querer,
nas grutas do esquecimento cai,
não temos culpa,
é inexorável destino,
vai rápido como as águas....daquele rio,
lamentável assassino,
que transporta sedimentos, mágoas,
ficando atrás os verdes prados,
depositando-os junto ao abrupto mar.

22.7.2007

Amsterdam - Coldplay

Come on, oh my star is fading
And I swerve out of control
If I, if I'd only waited
I'd not be stuck here in this hole
Come here, oh my star is fading
And I swerve out of control
And I swear, I waited and waited
I've got to get out of this hole

But time is on your side, its on your side, now
Not pushing you down, and all around
It's no cause for concern

Come on, oh my star is fading
And I see no chance of release
And I know I'm dead on the surface
But I am screaming underneath

And time is on your side, its on your side, now
Not pushing you down, and all around
No it's no cause for concern

Stuck on the end of this ball and chain
And I'm on my way back down again
Stood on the edge, tied to the noose
Sick to the stomach

You can say what you mean
But it won't change a thing
I'm sick of the secrets
Stood on the edge, tied to the noose
And you came along and you cut me loose
You came along and you cut me loose
You came along and you cut me loose

Friday, June 15

Noites insuportáveis

Há momentos em que uma atmosfera pesada e soturna cai sobre nós, nada há que nos apeteça fazer. Realmente torna-se difícil definir esta sensação.

Tuesday, June 5

E se fores..

Há dias em que é triste saber,
saber que alguém amigo se distância:
horas vagas sem nada fazer,
a pensar nas horas de infância.

Quando fores, num dia nublado,
não te esqueças de mim,
não me deixes preocupado,
e dá continuidade a esta amizade sem fim.

5.6.2007

Mais um quadro

Quando eu,
naquela verde pálida serra passei,
olhando pelo vidro o precipício rochoso,
senti-te a beleza.

Íamos a subir a serra,
o calor abafante pesava a atmosfera,
as faces eram rosadas,
e é neste quadro que me invade a tristeza.

5.6.2007

Monday, June 4

Spectre

Poison, you!
Give me!
I want some.

Can the breeze
Pull the curtain down?
Should I find
out what poison
Is all about?
Will I leave it be?
Certainly not,
I know me
I wont rest
Until I’m up
and over the test.
Take the poise
Or let it be?

Poison, Let it flow
In increasing dosage
Let the snow fall under
The savage blunder
Of the ones
talking outside.

Lighter, lighter,
Give me gas
Hold your flame,
This nausea ends
This game.

One last smoke and I’m off.

Tuesday, May 22

Realidade Oculta

Quem és tu, icógnito e incompreensível,
que passas por todos nós,
tens uma pressa atroz,
causas dor angustiável?

És, diria eu, sorrateiro e perverso,
quando queres és cura.
A tristeza perdura
contudo; sinto-me submerso.

Já que a mim me não resta assim viver e sofrer,
pois então que assim viva,
talvez, eu, ele, consiga,
não há nada a temer.

Mas, ó realidade oculta, tu, diz-me já!:
por que tanto atormentas?
P'lo menos assim o tentas!
olha: minha juventude, essa, já ali está.

Sunday, May 13

A Noite Passada - letra e música de Sérgio Godinho

A noite passada acordei com o teu beijo
descias o Douro e eu fui esperar-te ao Tejo
vinhas numa barca que não vi passar
corri pela margem até à beira do mar
até que te vi num castelo de areia
cantavas "sou gaivota e fui sereia"
ri-me de ti "então porque não voas?"
e então tu olhaste
depois sorriste
abriste a janela e voaste

A noite passada fui passear no mar
a viola irmã cuidou de me arrastar
chegado ao mar alto abriu-se em dois o mundo
olhei para baixo dormias lá no fundo
faltou-me o pé senti que me afundava
por entre as algas teu cabelo boiava
a lua cheia escureceu nas águas
e então falámos
e então dissemos
aqui vivemos muitos anos

A noite passada um paredão ruiu
pela fresta aberta o meu peito fugiu
estavas do outro lado a tricotar janelas
vias-me em segredo ao debruçar-te nelas
cheguei-me a ti disse baixinho "olá",
toquei-te no ombro e a marca ficou lá
o sol inteiro caiu entre os montes
e então olhaste
depois sorriste
disseste "ainda bem que voltaste"

Yann Tiersen - Comptine d’un autre été L’après midi



Da banda sonora do "Fabuloso Destino de Amelie Poulain". Muito bonita.

Saturday, May 12

Rumo

Encadernado num ninho do meu sangue, espero as viúvas negras, potrefactas, que vêm, por vias de providência, depositar e revolver os seus ovos no doce esconderijo deste sangue rico em nutrientes. E antes do fim do dia, lá vêm elas pelas colinas, num trotear rastejante, numa trovoada de patas arqueadas, vêm cobrir esta pasta, minha carapaça de animal, vêm cobri-la de ponto negros, ao longe, uma cidade de ovos de viúva. E quando acabam, vão-se como vieram, em marcha, trote e passo de valsa, esquencendo e aquecendo a tarde, puxando a noite, vão e deixam para trás a vida que aí vem. E eu nem reparo, nem me apercebo onde estou, não tenho consciência que me baste para isso, num, neste estado latente, adormecido mas ciente, e incognoscível, enrolado na posição fetal que me trouxe ao mundo, e que agora me afasta dele, deixo-me ficar para além da fronteira do acessível, contando os ovos, um para cada estrela, e dizendo a Deus que vestir para logo a noite, e pedindo às formigas que me devoram um pouco de paz, que, por agora, a cortina deve permanecer fechada. A falácia de existência roubou-me de qualquer via possível por onde me possa arrastar, sendo que nem um astro pode emitir energia suficiente para agora me levantar do chão, e além disso o sol há muito que morreu. A terra move-se então, e os lobos, esquecidos da vertigem, aproximam-se demasiado do pico da falésia, e morrem por descuidada falta de atenção. Os seus cadáveres decompõem-se no meu sangue, e eu, vários metros abaixo, calo-me para assitir a tão belo, brutal, ritual. O ritual das bestas. Como é decrépito e revigorante o som da morte! Eis que o orgânico volta à terra, e a mim, o que me foi roubado vou recuperando pela mão mal lavada do destino, esse que anda constantemente a brincar na lama e no pó, sempre revestido de sujidade, mas que nunca se lavou quer em vida ou morte, e que se recusa permanentemente em usar sequer uma réstia de sabonete, um pedacinho de gel...


Nop, não pretendo chegar a lado nenhum com esta divagação, simplesmente, apeteceu-me...

Thursday, May 10

V= x+y

Vivemos num problema de programação linear? É que segundo tenho observado... somos definidos por restrições.
Porque é que a evolução ainda não nos empurrou para um ponto onde nascemos com asas? Já que demos saltos tão notáveis em termos tecnológico-científicos, nos passados séculos, porque é que não desenvolvemos dois membros anteriores revestidos a gordura, e portanto impermeáveis, que nos permitissem saltar do nono andar num dia tempestuoso e procurar abrigo debaixo de qualquer toldo acima das nuvens? Adorava poder acordar todos os dias, passar-me por água - ela, cheia de químicos, continua a ser a última fonte de pureza num raio de quilómetros - , vestir uns panos à pressa e atirar-me de cabeça numa descida de segundos que parece prolongar-se por horas e dias, uma vida que passa diante dos olhos, e na última décima do último segundo possivel, antes de um ponto donde não há retrocesso, estender um manto branco, sedoso, e planar, depois subir e descer, rodar...
Até lá suponho que vá ter de continuar a usar o elevador, uma das salas mais horríveis que o homem conseguiu, até agora, inventar.

Tuesday, May 8

Secção Linguística

Haver

Será correcto dizer - "haverá debates sobre a língua"
ou - "haverão debates sobre a língua"?


Resposta
: O verbo haver, quando utilizado com o sentido de existir, é um verbo impessoal, isto é, empregado apenas na terceira pessoa do singular. Quando empregue com um verbo auxiliar (ex: ter), o auxiliar deverá vir também na 3ª pessoa:
"Tinha de haver debates sobre a língua"
"Há-de haver debates sobre a língua" ; ERRADO: "Hão-de haver debates sobre a língua"



Assim, a forma correcta é : haverá debates sobre a língua



Conjugação do verbo haver no presente do indicativo:
Eu hei
Tu hás
Ele há
Nós havemos
Vós haveis
Eles hão

Secção Linguística


Eu e o Fugas chegámos à conclusão de que um blog como o Incógnito seria incompleto sem uma secção linguística, dedicada ao estudo da língua Portuguesa, lingua mãe de todos nós. Bem sabemos que para muitos esta área é amiúde desprezada. Mas por isso mesmo e, de modo rápido, colocaremos aqui questões interessantes sobre a língua por nós falada. Será -geralmente- publicada todas as terças-feiras. Cumprimentos

Monday, May 7

Conto

Naquele chuvoso dia de Novembro as gotas caíam mais pesadas, as ruas estavam alagadas, o céu deixava passar apenas uma luz escura e húmida. As árvores abanavam-se ao vento, deixando cair algumas velhas e solitárias folhas, cansadas já de um longo viver. Alguns pontos escuros movimentavam-se pelas ruas, agitadamente, desorientadamente. O ar movia-se velozmente, entrando pelas frinchas das portas carunchosas. Eu estava à janela, sentindo o calor húmido a embaciar o vidro. Tentava encontrar algo que me desse vida. Estava num quarto sóbreo, de paredes bejes, pálidas, com um aspecto pouco apelativo. O tecto era branco, sim, recordo-me bem. Faltava-lhe alguma decoração, parecia ser antiquado. Não sei, no entanto, porque estava ali. Por vezes a imagem parece-me enevoada, assim como a atmosfera que pairava na rua. Os sons vinham-me por vezes difusos, confusos. Neste instante lembrei-me dela. Ela, quem? Nem eu sabia bem. Havia visto umas duas ou três fotografias há algum tempo e, como por magia, os seus doces olhos, os seus carnudos lábios - tenros e calorosos -, os seus cabelos ondulados, de tons acastanhados, tinham permanecido comigo. Gostava de dizer o seu nome, pronunciá-lo, mas tinha receio de que fosse dar esperanças a uma ilusão. Nunca ouvira a sua voz - delicada, sonora, suave - talvez. Ela vivia no meio de planícies de tons amarelos, com árvores solitárias em pequenos outeiros, onde raramente a água acariciava os solos, dando toques de aridez a esse ermo. Eu vivia numa confusa urbanização, junto a um rio imundo, onde as descargas da imunda civilização eram deitadas, onde raras vezes via uma árvore, qualquer simples vislumbramento da natureza. Eu nem sequer sabia como era o seu feitio, a sua pessoa. No entanto, eu queria continuar naquele suave estado de dislumbre, em que não sabemos o que sentimos, mas queremos senti-lo. Acabei por cair no sofá, adormeci. Uma poeira intensa levantou-se, olhei em volta, tudo estava imóvel, um pássaro passou velozmente defronte. Olhei para o horizonte - via-se uma linha de árvores no distante fundo, com um céu pálido, mas belo, sobre este magnífico quadro. Uma névoa pairava sobre mim, sendo difícil perceber onde estava. Dei alguns passos em direcção a um velho sobreiro, com uma dura e espetacular cortiça, onde as folhas brilhavam, douradas, à luz do sol de final de tarde. Uma fina areia levantou-se. Senti-me exausto ali, naquele local tão hostil, mas ao mesmo tempo tão familiar. Estava numa colina. Olhando para baixo, vi uma solitária vereda que se dirigia para Este. Era agreste, toda em terra, toda escavacada, desprovida de vida, sem árvores, sem gente. Comecei então a caminhar, lentamente, vagarosamente pela velha estrada, em direcção ao futuro. Uma ligeira brisa começou a rolar por entre os suaves outeiros. O sol punha-se agora, dando nova coloração à paisagem, dando lugar à sua irmã alva e redonda, com pequenas escavações escuras, assemelhadas àquelas que o meu caminho tinha, mas de uma maior beleza, de um maior brilho e harmonia. A noção do tempo, perdera-a já há algum tempo. Fui continuando a lenta viagem, sem saber porquê, onde, como.
Era já noite alta, alguns morcegos pairavam sob a branca luz proveniente do profundo céu, corujas aventuravam-se naquele ermo. Ouvi um pequeno regato, com águas salpicando em rochas ao longo do seu caminho, brilhando e reflectindo todo o esplendor da noite. O rio passava por debaixo de uma vetusta ponte, construída com três arcos romanos. Pareceu-me ver aí uma rapariga, era difícil distinguir a calçada branca do seu vestido. Apenas os seus cabelos negros me deram a garantia de uma figura humana. Abrandei os passos, estranhando aquela presença naquele despovoado local. Senti a sua face virar-se para mim. Eu estava desprotegido, recebendo toda a luz lunar na minha face. A sua figura era harmoniosa, bonita, e - maior dos espantos! - ainda assim, simples. O vento nocturno fazia-lhe ondulações no cabelo - preto como a noite. Saiu-lhe uma terna pergunta dos seus lábios:
-"Quem és tu?"
Não consegui responder-lhe, era uma questão tão difícil, complexa e, ao mesmo tempo, tão árdua de responder! Disse-lhe apenas que me chamava Alexandre. Os seus olhos amêndoa, alegres, ansiosos, esmoreceram por momentos. O anterior silêncio invadiu a ponte. Eu perguntei-lhe como se chamava, ela respondeu. Perguntei-lhe onde estávamos e um pesado silêncio ressurgiu. Foram os meus olhos desta vez a cair em desalento. No entanto, algo de familiar havia naquela bela face, naquele corpo de formas tão atraentes, de deusa encarnada em mulher, com coloração rosada nas bocechas e sorriso único e o seu olhar penetrava em mim de modo inigualável, criando sensações por mim nunca antes vividas. Era familiar. Recordei-me então da fotografia d'Ela, sim, era aquela que tinha visto em fotografia! Fiquei contente por ser ela, era bom estar com ela, sentia-me bem com ela.
A lua estava alta, o tempo -indefinido- corria a passos largos. Ela desceu então umas pequenas escadinhas que davam acesso ao rio. Havia uma rara graciosidade no seu andar, os seus tenros braços pareciam mais belos ainda à luz da noite, os seus olhos possuíam um formoso brilho, os seus seios mouriscos pareciam agora de marfim, os meus olhos procuravam os seus. Sentámo-nos à beira-rio, olhando o universo em redor, procurando respostas obscuras nas estrelas, procurando um repouso aconchegado na erva branda. Algumas árvores não muito longe balanceavam ao vento, dando alguma animação àquela repousada noite. Não me lembro ao certo, mas ficámos a conversar largamente, esperando o nascer do sol, sorrindo um para o outro, encontrando diferenças e coincidências no nosso ser. Era agradável ali estar com ela sem saber as horas, sem saber o dia, o mês ou o ano. Olhei para ela, sorri, afaguei-lhe a face e, dando-lhe a mão, adormecemos num sono profundo, esquecido e eterno.

Friday, May 4

Constatação

Não há arma maior que a linguagem.

Outro só

Que sono tremendo.. Que falta de inspiração, motivação e sentimento, que sono! Mal consigo manter os olhos abertos, tal é a seca que plagueia as terras à minha roda, e apesar de a minha mesa estar sempre cheia, e o vinho não faltar, não me sinto saciado, quero mais! Quero outras coisas, e pergunto-me até que ponto estou disposto a largar tudo o que me prende, e aquilo de que penso precisar, para as alcançar.

Assim, tudo é um fado, tudo é um tango, mas nada se ouve, poucos dançam... Há alguns que simplesmente não querem, outros que não podem, não lhes deixam, e os que dançam, vão dançando, enquanto eu me pergunto qual o círculo em que me hei-de enquadrar, e quais motivos me levam a fazê-lo.

Suponho que motivo nenhum, já que a música o comanda, ainda que a única coisa realmente audível sejam os passos dos que rodam e rodopiam, e aos poucos, encolhido, vou avançando, descontraindo, percorrendo essa pista, fora do ritmo dos que se mexem à minha volta.

Não é o que fazemos todos? E agora? Dançamos? Ficamos parados? Onde está a música? Onde estamos todos?

Pista fora, que morra a ampulheta!

Wednesday, May 2

Poema antigo

Bem, este poema foi mesmo agora encontrado por mim. Já nem sabia que existia. Pelos meus cálculos, deve ser da época em que estava no 9ºano e foi o primeiro dedicado a alguém. Velhos tempos.


Era bela e formosa,
Suave como a água do mar,
Esbelta e vistosa.

Seus lábios eram d'oiro,
Seus olhos, pérolas azuis,
Sua pele, de tom moiro.

Inveja tinha a lua,
E fraco era o sol,
Perante tal beleza crua.

A Vénus superava em tudo,
Era ela uma deusa,
A raínha do mundo.

Música

Música, música, como é impossível resistir-te! Não te adorar choca até os deuses mais temíveis! E desconhecer-te é humanamente inalcansável. Isto porque nasces dentro de cada um de nós. Expressão mental, a tua beleza faz-se sem recurrência ao óptico, que milagre! Tocas o que importa, o cá dentro, mas não te fundes, antes penetras no nosso intímo, pois ninguem nos conhece melhor que tu, tu que vieste de nós, és a expressão do homem, bem, mal, toda a filosofia nasce de um ritmo, uma pauta, um encantamento. Música, o amor que a todos é dado a conhecer.

Tuesday, May 1

Adios Nonio - Astor Piazzolla



Um tango que Piazzolla dedicou ao pai, se não me engano. Este músico compôs inúmeros tangos que se distinguem pela sua originalidade sonora, fruto da incorporação de elementos jazzísticos nas suas peças.

Monday, April 30

Eleições na Madeira


Questão pouco abordada no preciso momento em que estamos é a das eleições na Madeira. A Madeira muitas vezes é esquecida pelo continente por ser uma zona pequena e distante do país, mas também pelo ridículo da situação que lá se vive. De facto, o poder é há trinta anos controlado por João Jardim, homem de grande sapiência e distinção, devido à ignorância de um povo ainda analfabeto e com ânsia de cultos por chefes com um status igual. Por outro lado, a oposição, pouco eficiente é, com guerrilhas internas, falta de retórica para um povo iletrado e um Buda no poder. Jardim é o alvo da adoração dos madeirenses e o mais temido dos homens pelo PSD. Raras vezes são ouvidas as críticas a este Rex. Mais grave é o desrespeito levado por ele a cabo à autoridade do Presidente da República, fazendo inúmeras inaugurações em época de eleições (o que é proíbido por lei, além de ser um atractivo para a ignóbil população votar nele). Quanto às razões para se efectuarem estas eleições: não vejo. Do ponto de vista do rei madeirense trata-se de uma medida de protesto contra a política do governo continental desfavorável à corrupção vivida na Madeira e uma afirmação do poder. Trata-se também de uma enorme despesa com a realização de umas eleições para as quais sabemos já os resultados antecipadamente. No fundo, é uma despesa. Uma despesa que para o povo madeirense nem se quer se ouve falar. Vejamos as coisas: criticam o governo de Lisboa por dar poucos fundos monetários para a Madeira e metem-se a gastar em eleições. Faz sentido. Resta-me perguntar apenas: que democracia é esta? Será que podemos chamar a esta bandalheira uma democracia? Continuemos assim, com líderes que mal falam português fluente, além de brejeiro!